
Luiz Gustavo Tessaro
Psicólogo
Abordagem
Em minha prática clínica, trabalho primordialmente com a Gestalt-terapia, incorporando, no entanto, elementos da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e de pesquisas em Psicologia Positiva. Sobre as possíveis aproximações entre a Gestalt-terapia e a TCC - apesar de suas diferenças epistemológicas - publiquei um artigo em revista científica, que você pode acessar aqui. Acredito na importâncias do diálogo e das trocas entre abordagens, numa lógica integrativa.
Abaixo, você pode conferir um breve resumo de cada abordagem:
Gestalt-terapia (GT)
A GT surgiu na década de 50, fruto das reflexões e práticas de um grupo de estudiosos, dentre os quais destacou-se um: Frederick Salomon Perls.
Ele e seus companheiros estavam descontentes com os rumos teóricos e práticos que a psicanálise tomara. Estavam influenciados pelas descobertas que alguns pesquisadores da Psicologia da Gestalt (Kurt Lewin, Kurt Goldstein, Max Wertheimer, dentre outros) haviam feito, bem como pelo método fenomenológico e pela filosofia existencialista, humanista e zen-budista.
Conceitos-chave da GT
Trago aqui alguns pressupostos conceituais importantes da GT que orientam a prática. O objetivo não é esgotar todos os aspectos da abordagem, mas passar um "drops" de como trabalhamos.

Gestalt
É uma palavra sem tradução exata na língua portuguesa. Tem um significado próximo de "totalidade" ou "forma". A palavra expressa ideias como a de que o todo é mais do que a mera soma das partes. As partes se relacionam para compôr esse todo. Mudar uma parte muda o todo. Nós também não somos bem representados apenas por um sintoma ("o depressivo", "a ansiosa"). O sintoma forma o todo, composto também por aspectos não adoecidos, potencialidades que são as "ferramentas" de saúde que temos.

Diálogo
É o encontro humano que se dá por meio da palavra. Depende da disponibilidade de ao menos duas pessoas para que um diálogo externo possa ocorrer. Se apenas um fala, torna-se monólogo. Assim, para que o encontro terapêutico seja frutuoso, é necessário a disponibilidade e vontade de ambos. Desse modo, algo novo pode surgir desse encontro. Do terapeuta, pede-se o respeito, a aceitação do direito que o outro tem de ser e de escolher, o sigilo, a presença atenta e interessada.
Aqui e agora
Podemos falar sim de vivências do passado (elas, afinal, nos compõe) e expectativas sobre o futuro (elas nos orientam), mas não viver no passado e no futuro. Vivemos no agora. É no agora que sofremos, nos alegramos, enfim, nos atualizamos. Mas, vamos combinar, é bem fácil estar em um lugar apenas de corpo presente, com os pensamentos longe, em outro tempo e outro espaço...

Experimento
É como chamamos uma opção metodológica que a GT oferece. A ideia é contatar algo novo, de forma nova. Sua utilização não é obrigatória. Contudo, quando oportuno, os experimentos podem ampliar nosso conhecimento sobre nós e sobre como nos posicionamos no mundo. Talvez o experimento mais conhecido da GT seja a cadeira vazia. Porém, os experimentos podem vir sob a forma de inúmeras outras propostas, tais como: escrever, perceber o corpo e as emoções, fazer algo novo (na sessão ou fora dela). Outro exemplo: eu costumo trabalhar o mindfulness (uma forma de meditação) como experimento, quando faz sentido. E, claro, você não é obrigado a fazer nada que não se sinta a vontade. Falar de si, por vezes, já é um grande experimento.


Ajustamento criativo
Pessoa e ambiente são inseparáveis. Logo, não faz sentido pensar uma pessoa fora de seu contexto. Ajustamento criativo é modo pelo qual a pessoa encontra em si, no ambiente ou em ambos as soluções necessárias para se auto-regular. Não é acomodação ou conformismo, mas a capacidade em ato de responder ao meio ante às situações que surgem com os recursos que se tem. Alguns ajustamentos, com o tempo, podem se cristalizar e tornar-se disfuncionais, interrompendo o crescimento do ser.

Awareness
Jorge Ponciano Ribeiro, importante Gestalt-terapeuta brasileiro, entende a awareness como o processo pelo qual nos tornamos conscientes de nossa própria consciência, no aqui e agora, inclusive das formas como a interrompemos. Envolve a atenção, ou seja, mente cognitiva percebendo as coisas e a consciência do corpo, das emoções, do aspecto motor, dos pensamentos, do contexto. Trata-se de um momento de insight, de síntese emocional, caminho para mudança na GT (Ribeiro, 2006).
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
A TCC é uma abordagem psicoterapêutica que parte do princípio de que nossos pensamentos, emoções e comportamentos estão interligados. Ao modificar padrões de pensamento disfuncionais, podemos promover mudanças emocionais e comportamentais significativas.
A TCC é estruturada, focada em objetivos e orientada para a resolução de problemas. Trabalho com alguns elementos dessa abordagem, sobretudo aqueles que favorecem o que em Gestalt-terapia chamaríamos de awareness de valores e avaliações (Polster e Polster, 2001).
Conceitos-chave da TCC

Crenças centrais
São ideias profundas e muitas vezes não conscientes que a pessoa desenvolve sobre si mesma, o mundo e os outros (por exemplo: "não sou bom o bastante" ou "as pessoas não são confiáveis"). Se aproxima do conceito de introjeto na GT.
Pensamentos automáticos
São pensamentos que surgem rapidamente em resposta a situações e refletem crenças mais profundas. Frequentemente, são distorcidos ou pouco realistas. Um exemplo seria pensar automaticamente "vou falhar" antes de um desafio. Proponho um trabalho integrativo dessas cognições com as demais percepções advindas do desenvolvimento da awareness.


Reestruturação cognitiva
Técnica usada para identificar, questionar e reformular esses pensamentos distorcidos, substituindo-os por formas mais equilibradas e realistas de pensar. Sempre em uma lógica totalizante e integradora, proponho o desenvolvimento da awareness nos âmbitos cognitivo, emocional, motor e contextual.

Exposição e dessensibilização
Em casos de ansiedade, fobias ou traumas, a TCC pode incluir técnicas graduais de enfrentamento de situações temidas, ajudando a reduzir o medo com o tempo. São propostas que se assemelham aos experimentos na Gestalt-terapia.

Treinamento de habilidades
A TCC também pode incluir o desenvolvimento de habilidades sociais, técnicas de relaxamento, estratégias de resolução de problemas e regulação emocional.
Psicologia Positiva
A Psicologia Positiva é um campo de pesquisa ainda não plenamente configurado como uma nova abordagem psicoterápica, mas que tem influenciado diferentes abordagens. A área se dedica ao estudo das forças e virtudes que permitem aos indivíduos, grupos e comunidades prosperarem. Ela resgata elementos de interesse das abordagens humanistas, existenciais e fenomenológicas, porém a partir de pesqusas de epistemologia positivista. Diferente das abordagens tradicionais da psicologia, que frequentemente se concentram na patologia e no sofrimento, a Psicologia Positiva busca compreender e promover os aspectos saudáveis e funcionais da experiência humana.
Conceitos-chave da Psicologia Positiva

Emoções Positivas
Alegria, gratidão, esperança e serenidade são exemplos de emoções que fortalecem a resiliência, ampliam a percepção e favorecem conexões interpessoais. Cultivar essas emoções contribui para uma vida mais satisfatória e equilibrada.

Sentido e Propósito
Ter clareza sobre o propósito de vida e sentir que nossas ações estão alinhadas com valores pessoais gera motivação e resiliência diante das adversidades.
Engajamento
Refere-se ao estado de fluxo — aquele momento em que estamos completamente absorvidos por uma atividade que nos desafia e nos motiva. O engajamento está ligado ao uso das nossas forças pessoais e à sensação de realização.

Forças de caráter
São traços positivos e universais que refletem o que há de mais autêntico e virtuoso em cada indivíduo. É uma classificação científica das virtudes humanas baseada em estudos transculturais e filosóficos.


Relacionamentos Positivos
A qualidade das nossas conexões sociais é um dos maiores preditores de bem-estar. Relações saudáveis promovem apoio emocional, pertencimento e segurança, sendo fundamentais para a saúde mental.

Realizações
Estabelecer metas e alcançar objetivos, mesmo pequenos, fortalece a autoestima e a autoconfiança. A Psicologia Positiva valoriza o progresso pessoal como fonte de bem-estar.