O Natal já é sempre amanhã: considerações sobre nossa vida acelerada
- Luiz Gustavo Santos Tessaro

- 16 de set.
- 2 min de leitura
“Nossa, como a semana passou rápido!”, “Puxa, parece que foi ontem!”, “Já chegou o Natal!”. Essas expressões de espanto talvez sejam familiares a você. Elas manifestam um fenômeno do mundo atual: a aceleração da vida. Um sociólogo alemão chamado Hartmut Rosa se debruçou sobre essa realidade. Para ele, essa sensação de que o tempo está correndo mais rápido é consequência dos avanços tecnológicos e sociais contemporâneos. Vivemos uma corrida insana e sem fim por sucesso:

“Não importa com quanto êxito, individual e coletivamente, vivemos, trabalhamos e nos orientamos economicamente neste ano; no próximo devemos ser melhores, mais velozes, eficientes, inovadores – e, no ano seguinte, coloca-se o nível ainda um pouco mais acima. (...) Aqui se manifesta, de forma especialmente impressionante, a irracionalidade da moderna lógica escalar, que se assemelha a um ‘correr às cegas’: os esforços de hoje não
significam um alívio duradouro amanhã, antes uma dificuldade e uma agudização do problema” (Rosa, 2019)
A tecnologia a serviço da pressa
Hoje, temos uma enxurrada de notícias do mundo inteiro chegando pelos nossos smartphones. No WhatsApp, nossa comunicação é instantânea (e há quem se irrite se a resposta demorar muito). Nas redes sociais, somos bombardeados por uma quantidade absurda de informações aleatórias (memes, vídeos, imagens), algo incomparável com a realidade informacional de um antepassado nosso há um século. Pesquisadores têm se debruçado sobre um novo conceito chamado FOMO, do inglês Fear of Missing Out, que significa o receio de não ficar sabendo instantaneamente de tudo que está acontecendo, o que leva à conexão constante.
Algumas consequências
Esse modo frenético de viver tem cobrado um alto preço à nossa saúde mental. Aumentam os índices de ansiedade na população em geral, que já apresenta sérias dificuldades de concentração e resiliência. Diante disso, não é incomum a perda do sentido da vida e o surgimento da depressão. Tudo é para ontem, pois temos os recursos para fazer tudo imediatamente. O tédio – pai da criatividade – foi condenado à morte.
O que fazer?
Hartmut Rosa, o autor citado, nos aponta algumas saídas. Dentre elas, destacam-se:

O retorno a atividades contemplativas: contato com a natureza, com a arte, com a espiritualidade.
O fortalecimento dos contatos sociais: cultivar boas relações sem esperar nada em troca.
Para bem experimentar ambos os pontos supracitados, é importante recuperar nossa capacidade de estar presente aqui e agora. Como nos disse o poeta Gilberto Gil, este é o melhor lugar do mundo. E o Papai Noel pode esperar.
Autor: Luiz Gustavo Santos Tessaro


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